O modelo educacional Brasileiro, desde as primeiras incursões dos jesuítas da companhia de Jesus até os dias atuais, tem seguido um modelo regido principalmente pelo pragmatismo político e religioso até mais do que o ideológico. A colonização realizada por Portugal foi altamente prejudicial à concepção de educação na capital portuguesa que futuramente receberia o nome de Brasil. A influência da religião romana neste país também foi um fator preponderante para a educação.
“A maneira como a igreja católica considerou o pensamento moderno ressalta a realidade do contexto de colonização do Brasil, isso porque houve um bloqueio em torno da ciência na área filosófica, por evocação de Tomás de Aquino na fundamentação da física Aristotélica, chegando ao ponto de ser denominada segunda escolástica portuguesa”.[1]
No Brasil a educação nos padrões Ratio Estudiorum [2] é um elemento importante para a compreensão do tipo de perspectiva adotada pelas políticas de educação futuras. Assim, o caráter educacional primitivo nacional foi forçado a aceitar este modelo, que na verdade viola a questão social gravemente, se distanciando do ideal de formação cidadã encontrada no período clássico da cultura grega, como vemos:
“No período novo a partir de Péricles (461-429) a ênfase educacional “muda de paradigma”. O conceito de educação já não busca a virtude ou verdade como um bem humano; a educação do indivíduo se volta para a “necessidade da Pólis” para capacitar o cidadão a exercer funções nos altos postos da administração e na política da cidade. Um novo processo educativo “pragmático” em suas bases e há um gradual abandono do ideal educativo de Sócrates, Platão e Aristóteles”. [3]
No período citado, a educação se volta para a formação do indivíduo social, capaz de produzir comprar, interagir na política, e crítico. “Para o mundo grego, que inventou a democracia exclusiva, para os grandes proprietários de terras, o ser cidadão define-se pela liberdade do individuo e pela igualdade entre pares”.[4]
Assim, essa perspectiva assume um papel significativo no desenvolvimento filosófico da educação dos períodos posteriores. Podemos citar mais uma vez a mestre em educação, Marlene Ribeiro:
“Uma compreensão ampliada do que seja educação abrange os processos formativos que se realizam nas práticas sociais relacionadas às diferentes manifestações de convivência humana que ocorrem na vida familiar, no trabalho, no lazer, na participação política e no aprendizado escolar”. [5]
Como fruto da Constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei 9.394/96) assume uma postura mais liberal e democrática e a visão social ganha, a meu ver, adeptos, pensadores influentes como Paulo Freire, que defendem o modelo de educação social não apenas no âmbito da estrutura escolar, mas, na própria sociedade. No entanto, ele mesmo se preocupa com o atual contexto “Paulo Freire não se preocupa apenas com o fracassso da escola. Preocupa-se também com o fracasso da sociedade inteira como sociedade educativa” [6]. O modelo atual ainda é regido pelo princípio da moral católica romana de que “o homem está na terra por simples castigo; que o homem é um vil bicho da terra e um pouco de lodo; e pela ênfase da condenação da riqueza; a pobreza é uma virtude” [7]. Esse modelo imposto pelos portugueses dificulta em muito um compromisso com modelos melhores como o americano, por exemplo, que é baseado no protestantismo. Assim a influência de tal mentalidade afeta tanto a perspectiva de uma educação social quanto de educação individual, ao modelo da Paidéia de Sócrates, Platão e Aristóteles, como podemos ler: “Refletindo sobre os ideais educativos dos gregos o conceito de arete pode ser interpretado como uma virtude própria, conjunto de qualidades físicas espirituais e morais que pode ser conquistado, conscientemente procurado. [8]
Como conciliar uma perspectiva de construção da educação humana baseado na valiosa humanidade do indivíduo com uma perspectiva de colonizados internalizada pelo pragmatismo político e religioso?
[1] Op. Cit. PAIM Antônio p.17 Por: LADEIA D Rodrigues Teologia para a Vida Revista teológica do Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição artigo: “critica à moral contra reformada” pág 95
[2] Ratio Studiorum é uma tendência ou filosofia dominante na história da educação brasileira que começou com os catequisadores da Companhia de Jesus cujo significado era: a separação entre instrução mínima para os “de baixo” e a formação clássica para “os do alto”. Os brancos filhos dos colonizadores recebiam educação humanista intelectual e os índios, negros e mestiços bastava a catequisação.
[3] OLIVEIRA Fábio Artigo; Educados segundo os ideais míticos, post em www.creiologos.wordpress.com agosto 2008.
[4] RIBEIRO Marlene universidade federal do Rio Grande do Sul. Artigo: Educação para a cidadania: questão colocada pelos movimentos sociais. Publicado na Revista da faculdade de Educação da Usp jul/dez 2002 volume 28 pág 114.
[5] Ibidem Op. Cit p. 115.
[6] PILETTI Claudino Filosofia da Educação. Editora Àtica Pág 38
[7] PAIM Antonio Op. Cit., pp. 18-20
[8] OLIVEIRA Fábio Artigo; Educados segundo os ideais míticos, post em www.creiologos.wordpress.com agosto 2008.
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