“Ele se manterá firme e apascentará o povo na força do Senhor”
Mq 5.4
A desordem civil, moral e religiosa gera a violência, mas, a palavra diz que “o efeito da justiça é a paz” (Is 32.17).
A minha abordagem deste texto fundamenta-se na regra de interpretação (analogia da fé). Portanto, o nosso norte é o apóstolo Mateus, em seu relato do nascimento de Jesus (Mt 2.6) que inspirado por Deus, revela o significado da profecia de Miquéias. O nosso tema é: Emanuel, a Esperança de um governo justo e pacifico.
No evangelho de Mateus há o relato de que homens vieram para adorar ao Rei dos Judeus. (Mt 2.2) Erraram o lugar do nascimento, imaginavam que um rei só poderia ter nascido em na cidade mais importante de Israel, Sião, em Jerusalém. Na época dos eventos “pré-natal”, Herodes o Grande era governador da Palestina, e Tibério Cezar o imperador romano.
Herodes poderia ser considerado um bom governante segundo os padrões contemporâneos, pois, construiu e empreendeu muitas coisas durante o seu reinado, a maior delas a reconstrução do templo de Jerusalém, projeto de (50 anos), e a cidade de Cesaréia, todavia, era conhecido como implacável para com os Judeus. Herodes ficou alarmado com a noticia anunciada pelos magos e sentindo-se ameaçado consultou os mais bem avaliados sacerdotes e escribas de sua época (Mt 2.4) com o fim de saber com detalhes qual era a informação acerca do nascimento da criança.
Duas coisas precisam ser ditas em relação a esse fato: 1) A criança foi descrita pelos magos como o Rei dos Judeus e 2) Havia uma expectativa desde os tempos do A.T e também no período intertestamentário de que um rei, o Ungido, justo, governaria pacificamente os judeus sendo o seu pastor. Este rei viria e libertaria a nação Israelita de suas cadeias romanas.
Assim, Herodes, busca nas Escrituras hebraicas a resposta para aquele evento. A passagem citada pelos escribas está na profecia de (Miquéias 5.2-5 a) a qual iremos meditar. Os interpretes das Escrituras afirmam que o “pastor do povo” não nasceria de uma grande e importante cidade, mas, de um “quase vilarejo” chamado de Belém. O nosso salvador nasce em um contexto tenso de ansiedade. O nascimento do messias configura o primeiro natal.
O sentido do natal comemorado por nós cristãos fundamenta-se no que a bíblia afirma. A bíblia afirma que a rebelião de Adão e Eva resultou em morte física e morte espiritual, para todos os homens, que é o afastamento de Deus. Mas, Deus em sua bondade, prometeu que um homem nascido de mulher seria capaz de reverter a condenação em libertação, a escravidão em liberdade, a morte em vida (Gen 3.15).
Desde as origens do mundo, o messias é anunciado. Na história humana um povo é separado por Deus que, por sua vez, o incumbe de anunciar a todos os povos a vinda do messias, ungido. Deus fez de Israel seu porta voz temporário.
Na história de Israel o messias é anunciado e esperado como, àquele que passaria pelos rituais comuns tais como, a unção com óleo, a entronização pelo sacerdócio e validado por suas ações. Seria um governador. Um rei poderoso e justo, capaz de estabelecer a justiça e a paz pela força do Senhor.
No interior da história humana temos a visão de um rei humano, todavia no interior da história da redenção, a figura humana revela apenas parte da natureza do messias, pois, ele não apenas humano é também divino, é o Emanuel que quer dizer, Deus conosco (Is 7.14). Cujas origens são desde os dias da eternidade (Mq 5.2).
Tudo o que foi dito deve nos fazer entender duas coisas: 1) Havia grande expectativa pela chegada do Messias, aguardavam o reino da justiça e da paz. 2) Jesus é anunciado pelos magos como o rei dos Judeus, ou seja, tudo aquilo que eles estavam esperando. Muitos dentre o povo de Israel entenderam que o nascimento de Jesus, natal, é a concretização do plano de salvação de Deus e das palavras dos profetas. O rei forte e poderoso enfim, havia chegado: o ungido o Emanuel.
Voltando-se para o profeta Miquéias lemos que o afrouxamento da lei, o abandono dos princípios divinos levou Judá a idolatria, imoralidade, perversão da justiça, e a violência. Atualmente as coisas não são diferentes.
Altos impostos, desvios de dinheiro, descaso com a coisa pública, massacre dos pobres, comércio da fé, a idolatria das riquezas, o triunfo da impunidade e da exploração. O justo está em um beco sem saída, cercado pelos governantes que lhe tiram a pele; cercado pelas leis que favorecem a transgressão e o criminoso; cercado pelos criminosos que andam impunemente com suas ameaças e armas, os palácios e as ruas foram dominados por transgressores. Ambos, governantes e criminosos oprimem o pobre.
Qual será a nossa esperança para tão grande calamidade política, moral e religiosa? Como bem ilustrou o comediante: “E agora quem poderá nos defender”? Seremos destruídos pela impiedade, pela astucia dos governantes, e pelas mãos do assassino, iremos sucumbir diante dessa terrível situação? Devemos ficar imobilizados diante do medo da injustiça e da violência?
Nos capítulos (1-2) Miquéias denuncia os pecados e proclama a sentença de Judá. Miquéias profetizou durante o reinado de Jotão, Acaz e Ezequias. O contexto de sua profecia é de opressão política, ganância (Mq 2.1-2) corrupção e imoralidade. Lembremos que a economia passava por um período de grande prosperidade e aumento das riquezas (Is 1.1-18). Todavia, os sacerdotes, os profetas, os juízes e os reis aborreciam o bem e amavam o mal (Mq 3.1-2).
O quadro é de corrupção total (Mq 7.2-4). Miquéias ergue a voz e denuncia os pecados cometidos pelas cabeças de Judá. As autoridades civis e religiosas perderam o rumo de Deus e deleitavam-se cada vez mais nos pecados. Enquanto isso, do outro lado, o povo sofria.
A situação do povo era deprimente e aparentemente sem esperança. Explorado pelos sacerdotes (Mq 3.2-3), enganado pelos profetas (Mq 3.5), abandonado pelos juízes (Mq 3.9-11) e desorientado por um rei idólatra Acaz, que ofereceu seu próprio filho em adoração pagã (Mq 6.16) (2Rs 16.1-4). Portanto, profeta Miquéias denuncia corrupção moral, civil e religiosa dos governantes de Judá e anuncia a sentença de Deus (Mq 3.8 – Mq 3.12 – Mq 4.10).
Sião que quer dizer, lugar seguro, (Sl 125.1). A cidade inabalável, a cidade do grande de Deus, a cidade do rei se tornaria em deserto e morte. Através do profeta Miquéias Deus diz aos governantes que Sião não é inviolável, por isso precisam se voltar para Deus, voltar atrás em suas atitudes, precisavam arrepender-se. Três palavras podem resumir o anseio do povo de Deus: esperança de justiça e paz. Que só viria por meio de um governador justo.
A situação de desolação não é o ultimo estágio de Sião, pelo contrário, Deus continua a confirmar a sua palavra e sua aliança (Mq 7.20) prometendo restauração completa e um governo reto, justo e pacifico sobre todas as nações (Mq 5.2-5). A salvação viria de um apequena cidade, uma cidade que não poderia em sua época, fazer frente de guerra com uma das maiores potências bélicas , a Assíria. A salvação é de Deus e não de um governo ou uma cidade militar, Acaz, estava em conluio com outras cidades buscando montar um frente de salvação, mas, esta não viria de suas mãos, mas, das mãos de Deus, ele traria o seu rei, o seu pastor.
Assim, nos capítulos (4-5) Deus anuncia pela boca do profeta a tão sonhada esperança! Após se cumprirem os dias no cativeiro na Babilônia, o Senhor tiraria os seus pecados (Mq 4.10 b) restaurando a sorte de Sião e então o povo seria cheio de alegria e júbilo (Sl 126.1-2). Deus mesmo seria o seu juiz e pastor. A justiça e a paz seriam alcançadas por meio de seu governo.
O quadro aponta para o futuro, onde o reino do Senhor será plenamente estabelecido, apontando para a Jerusalém celeste, onde Deus habitará entre os homens (Ap 21.1-5) Todos os povos estarão desejosos de ouvir e seguir aos seus comandos (Mq 4.1-2). O juiz julgará os povos e colocará as coisas em seus devidos lugares e a guerra não será mais necessária será estabelecido Shalom (Mq 4.3-5). Os oprimidos, os desvalidos que são rejeitados e espoliados serão admitidos e serão finalmente pastoreados (Mq 4.6-7).
No capitulo (Mq 5.2-5) o profeta dá detalhes sobre a natureza do messias e a natureza de seu governo. Deus traria juízo sobre Sião (Mq 5.3 -4.10), mas, passada a correção, haverá um reinado justo e pacifico pelas mãos do rei. A primeira referência diz respeito ao local de nascimento do rei. Ele nasceria em Belém da Judá, terra onde o poderoso rei Davi pastoreou as ovelhas de seu pai. A segunda referência diz respeito à sua origem que é desde os dias eternidade, desde antes que houvesse tempo. A terceira referencia diz respeito à natureza do seu governo que é a firmeza.
O messias tem dupla natureza, humana, por ter nascido de mulher e em Belém e divina, visto que, sua geração é eterna. A promessa de restauração inicia com a promessa de um reinado divino-humano. Assim, é mais que evidente que a profecia aponta não para um líder humano comum com as qualidades básicas para o governo, pois, antes de tudo ele é Deus.
Desta forma, não há ninguém que atenda essa exigência senão Jesus Cristo. Os discípulos se perguntaram: “Quem é este que até o mar e o vento lhe obedecem à voz?” Ele é o Cristo, o enviado, o rei! Gerado pelo Espírito Santo, nascido de Maria.
O seu governo não será de frouxidão. As rédeas estão em suas mãos, a terra não ficará sem lei (Mq 4.2). O afrouxamento da lei gerou o estado de calamidade em Judá, o profeta Habacuque, também alertou para esse erro, pois, afrouxada à lei a justiça é torcida, o perverso sempre tem vantagem sobre o justo a violência predomina.
A natureza do seu reinado é descrita. O rei apascentará o povo na força do Senhor, o rei será o pastor de seu povo. O pastor é reconhecido como aquele que alimenta e protege seu rebanho (Ez 34.2). Aquele que busca a ovelha que se perdeu e por salvar aquelas que são atacadas. Moisés era pastor, Davi foi pastor. A vida de pastor de ovelhas era uma excelente preparação para alguém que iria liderar ao povo.
O nascimento de Jesus indica que Deus será o nosso pastor. Os cabeças de Judá, os cabeças de nossa época deveriam ser pastores de Deus sobre o povo, mas, ao contrário, abandonaram a Deus e desencaminharam o rebanho. Assim o nascimento do senhor Jesus aponta para a esperança de um pastoreio firme e cuidadoso.
Não é sem razão que a bíblia revela seu caráter de pastor. “O Senhor é meu pastor e nada me faltará …” (Sl 23.1-4). Jesus Cristo guardará as suas ovelhas: “Eu sou o bom pastor, o bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11) haverá um rebanho e um só pastor (Jo 10.16). Ele separa as ovelhas com o devido cuidado e sofre como o pastor. “Jesus é o grande pastor de ovelhas” (Heb 13.21) nós somos o seu povo rebanho do seu pastoreio (Sl 110.3). O Messias é identificado como o rei e verdadeiro pastor.
A desordem civil e religiosa gera a violência, mas, “o efeito da justiça é a paz” (Is 32.17). O profeta anuncia que o Senhor será a nossa paz. O shalom anunciado (Mq 4.3-4) e em (Ap 21.3-4). A paz no AT relacionava-se a prosperidade material, como saúde, riquezas, bem estar social, segurança física, tranquilidade. A paz material dada por Deus os encaminhava a paz mental. Todavia, durante o exílio babilônico puderam perceber que a paz dada por Deus vai para além da prosperidade material.
A paz anunciada por Miquéias tem um conteúdo escatológico, ou seja, extrapola a condição de Israel se estendendo a todas as nações debaixo do sol. Aponta para a esperança dos últimos dias na crucificação do Senhor, pois, pelo seu sangue temos paz com Deus e ao mesmo tempo por sua obra seremos presenteados com o Shalom.
Quantas vezes o Senhor Jesus se referiu a essa paz: “deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não vo-la dou como o mundo dá” ( Jo 14.27) O messias tornou-se a nossa paz derrubando o muro que havia entre nós e Deus: “ porque ele é a nossa paz” (Ef 2.14-18). A paz promovida pelo messias não é apenas um equilíbrio interior, ou ausência de perturbação, não! A paz segundo Jesus Cristo é “paz que excede todo o entendimento” (Fl 4.7) guarda todo o nosso ser e todo o nosso entendimento, o homem todo está a salvo! Ele é o príncipe da paz (Is 9.6).
O nascimento de Jesus Cristo inaugura a promessa do reino da justiça e da paz. O Emanuel é a esperança de consolo para todos os povos. O novo testamento não anuncia outro senão a Jesus Cristo, só ele, cumpre todas as exigências preditas pelos profetas. O natal para os cristãos deveria ser uma festa pela chegada o rei e pastor de nossas almas. O nascimento de Jesus Cristo é a concretização da esperança de um governo justo e pacifico.
Como podemos usar essas verdades?
Em primeiro lugar não devemos nunca perder a esperança, por sermos perseguidos, humilhados e roubados. Não importa o tamanho do caos político, moral, social e espiritual que se estabeleça, no país, nas cidades ou nos bairros, em que vivemos, pois, em breve, o Rei dos reis e senhor dos senhores aparecerá para pastorear todas as nações na força do Senhor.
Em segundo lugar devemos ter sabedoria para sabermos só em Jesus Cristo temos justiça e paz e que enquanto o senhor não for o pastor de todos, não haverá justiça e paz completa. Os governadores desse mundo estão se afastando cada vez mais de Deus e de sua palavra, assim, não se iludam com suas promessas de paz e prosperidade, eles não são, o messias prometido, Jesus o é.
Terceiro lugar, devemos nos arrepender dos nossos pecados e erros. Muitas vezes nós também nos esquecemos da vontade de Deus e agimos como Judá agiu. Por nos esquecer da palavra começamos a governar as nossas vidas como bem entendemos, o resultado é que oprimimos, buscamos nossos interesses pessoais, nos tornamos violentos e imorais. Lembremos que Sião a cidade inabalável não era intocável Deus a puniu severamente pela sua transgressão.
Quarto lugar, devemos comemorar o natal de forma sadia e cheia de alegria. O nascimento do messias, o Emanuel, é a inauguração de um governo justo e pacifico. O rei nascido em Belém é a nossa paz.